Alguns raios vazam em meio a uma espécie de rede protetora verde. Ali perto, o sujeito dispara mensagens para uma rede social da internet através de seu Iphone. Moderno, não? Com isso, porém, não consegue perceber que os fechos de luz vazados daquela imensa rede verde formada pela unção de galhos e folhas de duas árvores evocam uma imagem quase que divina tamanha sua beleza. O distraído perante as manifestações mais belas da natureza é maringaense. Ele prefere o twitter aos presentes que Maringá tenta dar para ele naquele momento.
Ele nem vê a criança se melecando toda de sorvete ao deixar escorregar a casquinha em sua blusa de moletom. Não percebe o carinho que um senhor, casado há mais de trinta anos com a mesma pessoa, faz nas costas da sua mulher, toda contente, cercada por sacolas de coisas compradas. Deixa até mesmo de perceber os beijos ávidos de um casal adolescente que nem bem curaram suas espinhas e já estão ali, mostrando para o mundo, que a paixão requer pressa e arde. Osama Bin Laden, se vivo fosse, poderia estar passando por ali que o maringaense desdenharia da sua ilustre e perigosa presença.
Ele também não consegue perceber que o sorriso daquela moça bonita que passa na calçada traduz um sentimento em comum para várias pessoas que aqui moram: a felicidade em Maringá é mais bonita do quem em outros lugares. A discussão para decidir o cognome de Maringá fica rasa quando olhamos para o sorriso, os olhos e a pele daquela mulher que passa pela avenida. “Olha que coisa mais linda mais cheia de graça, é ela menina que vem e que passa”. Lembro de uma canção, que, aliás, não foi composta na “Cidade Canção”.
A menina passando, fazendo os mais safados assobiar, os mais recatados se enrubescerem e as namoradas dos outros se amargarem consegue, veja só, até mesmo deixar a mãe natureza em segundo plano. Os fechos de luz vazados por entre árvores resolvem ter vida própria, desobedecem as ordens superiores naturais, e, solidários com a beleza da vida, brilham mais fortes e miram na direção da moça bonita que passa. Maringá é isso. É uma moça bonita passando pela calçada e deixando a multidão boquiaberta. Bonita, jovem, saudável, disposta para o amor e para a alegria. A felicidade, ainda que totalmente sem explicação, não deixa aquela menina ficar feia. Ela não vai se importar se Maringá for a Cidade Canção ou a Cidade Verde. Ela só quer caminhar, seguir em frente e sentir o perfume da juventude exalando pelos seus poros. Aquela moça deveria se chamar Maringá.
E maior surpresa não há, o mundo é mesmo perfeito, penso eu, quando vejo que a bela moça percebe a invasão dos fechos de luz, olha para o lençol verde da natureza e fica maravilhada com o espetáculo que Maringá lhe preparou. A natureza assistida e respeitada pela menina mais linda da cidade é exemplo de uma vida que se completa com o meio. E ela não resiste, precisa mostrar ao mundo o quanto ama aquele lugar.
Dispara fotos do seu celular e eterniza o lençol verde furado de luz. Seguidores olham rapidamente aquela imagem disponibilizada em um link no twitter. O maringaense que mexia no seu Iphone, um dos 1.353 seguidores da moça, vê a foto, emociona-se e também se sente um sujeito feliz por morar em Maringá.
Por Wilame Prado
*Crônica publicada dia 17 de maio de 2011 na coluna Crônico, do jornal O Diário do Norte do Paraná.
Nenhum comentário:
Postar um comentário