Hoje foi a primeira vez que pisei no Fórum, depois que me tornei Advogado. Não me é um ambiente tão familiar, até porque meus estágios foram todos em órgãos federais, mas já havia estado lá algumas vezes.
A primeira vez a gente não esquece. E ainda mais: a primeira vez que participaria de uma audiência como parte (ainda que não fosse eu a parte, tampouco o procurador; ia apenas dar uma assistência descompromissada a um familiar).
E é diferente. Uma sensação estranha. Passar por aquela porta giratória com uma gravata e uma pasta da OAB em mãos, sendo tratado agora como advogado, e não mais estagiário, é realmente diferente. Como se agora tudo fizesse sentido. Como se finalmente eu estivesse no jogo, e pra valer, sem ser mero café-com-leite [na verdade, gandula]. Andar por aqueles corredores, olhando nos olhos das pessoas, de igual pra igual... não sei explicar direito. Nunca me imaginei nisso. Mas me senti muito bem.
Isso tem um peso especial. É como assumir um ônus, uma responsabilidade de ser o Doutor digno, responsável [sendo redundante], correto e capaz. Agora as decisões deveriam partir de mim; as questões que eu mesmo ainda fazia, no meu consciente, deviam ser respondidas por mim. Não tinha ninguém mais pra respondê-las. Era apenas eu e eu.
Mas tudo bem, eu não era o procurador da causa, era apenas um acompanhante que estava pronto e armado caso fosse necessário. Armado, em termos. Estar armado, nessas circunstâncias, é algo bem mais profundo e metafísico do que aparenta ser.
Ouvir "a senhora constituiu advogado?", e a resposta "não, ele é meu acompanhante", foi realmente prazeroso. Não pelo fato dela não ter me reconhecido como procurador, mas pelo fato de outro profissional do Direito ter me notado como tal. E esse foi meu primeiro ato, mesmo sem ser um ato. Foi informal, sutil, quase que tácito, mas foi meu primeiro ato. Mesmo ficando do lado de fora da audiência.
Em certo momento, me flagrei parado na janela do 3º andar do Fórum de Maringá, contemplando a copa verde das árvores e observando o alto e imponente logotipo do McDonald`s, num misto de reflexões e contentamento por aquilo tudo.. Foram minutos mágicos, em que em literalmente viajei. Mas como pode isso?? Um advogado parado na janela do Fórum, olhando a paisagem, enquanto todo o resto das pessoas ali trabalha?? Não faz sentido.
Realmente, pode parecer que não faz. Mas pra mim faz. É que tem que valer a pena, sabe.
Às vezes penso que escrevo essas coisas aqui só pra me gabar, e ouvir as pessoas dizendo "Ah, você é tão sensível, e fofo, e especial.." na verdade, escrevo essas coisas pra mim mesmo, como registro histórico. Tô tentando pregar uma peça no meu eu do futuro. Sim, pois seria trágico daqui a algum tempo eu me tornar uma pessoa fria e mesquinha, sem me dar conta. É isso, estou me preparando para um eventual choque de realidade. Quero preservar o que vivi e o que aprendi. E o que aprendi?
A tendência é que a gente deixe de se importar. É mais fácil ignorar o que há de belo, e se importar com o que há de necessário. Dinheiro é necessário. Status é necessário. Trabalho árduo é necessário. O problema é que, tudo isso, sem felicidade, não vale a pena. Eu aprendi que as pequenas coisas, que as minúcias do dia, isso sim vale a pena. De que adiantaria eu ser um grande e reconhecido profissional, se não tivesse a mínima capacidade de parar e observar como o dia está lindo, como Deus é perfeito e como seus amigos e familiares são importantes pra você? Que valor teria tudo isso? Ansiedade, estresse, preocupação, trabalho, rotina. Me chamem de hipócrita sonhador, mas penso que não vale a pena.
Foi nisso que pensei hoje naquele Fórum, vendo aquelas pessoas correndo, gente preocupada. Aquele momento na janela foi mágico e, quer saber, fico feliz por eu ainda fazer essas coisas. Restou em mim uma parcela de criança, uma parcela de infantilidade e imaginação. É tão bom saber disso! É tão bom saber que o medo e a vergonha não sufocaram aquilo que eu posso ter de mais puro: a capacidade de me alegrar com as coisas mais simples.
Espero que, daqui a alguns anos, quando eu voltar a este post, não me critique e não me surpreenda. Espero que ainda valha a pena. Espero que me lembre desses tempos de profissional inexperiente e destemido, que ousava chegar até o parapeito da janela simplesmente para viajar e, a despeito do que meus companheiros de vida pensariam, SONHAR.
A primeira vez foi inesquecível e sim, eu quero me lembrar.
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