Hoje foi um daqueles dias mágicos, em que encontramos aquela dimensão da vida que geralmente está meio oculta.
Aquele momento em que você não pensa, simplesmente vive. Simplesmente se joga. Aquele momento em que não existe o peso existencial de nossa rotina, de nossos afazeres, de nossos deveres. Existe apenas o sorriso, a graça de contemplar e sentir a vida.
Aquele momento em que mesmo a dor parece coadjuvante. E acho que esse deve ser seu real papel: o de coadjuvante. Mera interferência, descreditada.
E então, olhando o sol, a grama, o vento e os jovens, pude perceber o quão mesquinha pode ser a dimensão em que normalmente vivemos. O quanto ela pode roubar de nossos dias e de nossa disposição em viver diferentemente.
Foi isso. Um choque de dimensões: aquilo que é, e aquilo que poderia ser.
E então eu me lembrei de tudo que vivi. De tudo que já sonhei. Das causas pelas quais guerreei. Essas mesmas causas que abandonei durante o percurso, talvez por me deixar sufocar pela realidade mórbida e cinza que a rotina nos imprime.
Uma dimensão áspera e amargamente monotônica em conflito com uma dimensão colorida e vivaz. Tipo um duelo, um conflito, uma dança no ar entre duas realidades diametralmente opostas. E eu, do alto de meu assento, na sombra daquela magnânima árvore, apenas contemplando.
E eu gostei. Curti. Contemplar o embate foi ótimo.
Estar algumas horas naquela dimensão que nos permite "ser", na plenitude de nossa existência, foi o que de melhor me aconteceu nos últimos tempos.
Olho pra trás e percebo o quanto perdi, por viver limitado numa dimensão de mesmice, culpa, monotonia e desalento. Mas hoje me lembrei que existe algo que vai além de tudo isso. Além do medo, da amargura, da desesperança, da rotina, da agenda, dos compromissos, da falta de compromissos, da indiferença e da dor.
Hoje, pelo menos hoje, posso escolher em qual dimensão estar. E assim posso reconhecer que mesmo que a dor do momento seja inevitável, o sofrimento, todavia, há de ser opcional. Sim, é isso.
Hoje eu escolhi ser feliz.
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