30 de mai. de 2016

Cada momento é único


Cada momento é único.

Longe de mim querer parecer retórico demais. Mas é.

Longe de mim querer parecer lugar-comum, mas sim.

A vida passa rápido e quando percebemos, já é junho. Quando nos damos conta, mais um aniversário. Ao nos atentarmos, já passamos por diversos sonhados momentos pelos quais esperamos por muito tempo, e constatamos que: não os gozamos satisfatoriamente.

Este ano, pela primeira vez na vida, estive em uma roda gigante. Com uma amiga de longa data. Bom, não era um momento tão esperado. Nunca idealizei nem planejei isso. Mas aconteceu. E querendo ou não, era um momento único. E assim que eu desci do brinquedo, lá no meu íntimo o meu subconsciente (ou minha própria consciência, eu sei lá) já me acusou: 'você nem aproveitou, nem viu o que aconteceu'. Envergonhado de mim mesmo, constrangido de maneira curiosa, eu poderia me defender dizendo ser culpa do Snapchat, e de todos os vídeos e fotos maneiras que fiz (afinal eu fiz!). Mas não ousei ser tão descarado. Eu sabia: eu vivi mas não senti.  Logo, nem sei se vivi. A culpa foi minha.  A culpa por não curtir o momento, por não o espremer ao máximo até tirar todo o caldo de satisfação e proveito era unicamente minha.

Cada momento é único.

A roda gigante é um fato simbólico. Retrata bem a situação, mas nem estou me importando tanto assim com isso. Eu me importo, sim, com dezenas de outras situações, de vivências diárias, de experiências singulares às quais me submeto cotidianamente, porém que passam desapercebidas ante minha sensibilidade. Eu me preocupo sim, e sofro inclusive, ao perceber que poderia ter feito mais. Ter sentido mais. Tocado mais. Ficado um pouco mais. Vivido mais intensamente cada segundo daquela proposta que me fizera o dia. Ter contemplado os detalhes e explorado as minúcias até a exaustão. Ter me soltado mais. Ter usufruído aquela companhia, aceitado aquele encantador e irreverente convite sem me preocupar demais com o depois. Ter sido tudo o que eu poderia realmente ter sido.

Porque o tempo não volta. Aquela oportunidade, certamente, também não. E o remorso ou a culpa é o novo ente de estimação que agora você, é muito provável, terá que aprender a lidar.

Ouvi uma vez que a vida não vem com manual de instruções, e que os erros são parte inseparáveis deste grande aprendizado. Eu concordo. Discordo, porém, de qualquer discurso que atribua unicamente às circunstâncias a culpa por nossos equívocos e tropeços. Cabe a nós lutar pela construção e manutenção daquilo que precisamos e almejamos. Inclusive seus detalhes, sua intensidade.

Que a cada nova situação, cada novo dia, eu possa me entregar mais, sentir e degustar de maneira nova e duradoura tudo o que a vida tem a oferecer. Absorvendo aquilo que de melhor há para ser absorvido, e renegando as impurezas e radicais livres que não necessitam ficar. Certamente as oportunidades do passado não voltarão a se apresentar no futuro, da mesma maneira que um dia se apresentaram. E nem eu serei mais o mesmo. É a lei do tempo, das cicatrizes. Como já disse Heráclito de Éfeso, "o homem que volta ao mesmo rio, nem o rio é o mesmo rio, nem o homem é o mesmo homem". Entretanto, a vida continua, o tempo não para, e cada nova hora é um nova oportunidade de fazer tudo valer a pena. De novo e de novo. Com mais sabor. Com mais prazer. E cada momento será sempre único.