8 de dez. de 2011

As borboletas, e a continuação da vida

Há algumas semanas atrás, numa noite comum, percebi em meu quarto a presença de uma pequena borboleta, cor de ouro envelhecido. Notei que ela estava com um ferimento em uma das asas, mas nada que, aparentemente, lhe causasse maiores danos.

Depois de planar pelo aposento, vi que ela pousou em uma das portas da parte superior do guarda-roupa. E lá ficou um bom tempo, até porque a cor amadeirada do móvel devia lhe transmitir uma certa segurança vital. Percebi logo seu nítido intuito de lá passar a noite. Adormeci. Adormecemos.

No outro dia pela manhã, ao me vestir, e quando já tinha até me esquecido da existência daquela criatura, notei que ela permanecia no mesmo lugar, inerte. Ao aproximar a visão, percebi que ela estava meio tombada, sendo retida no local apenas pelas características próprias de seus membros, e também pelo relevo do objeto.

Num ímpeto de curiosidade, toquei sutilmente no inseto para ver se esboçaria alguma reação mas, para minha surpresa, ele despencou em queda livre até o chão.

Não tive dúvidas: a borboleta estava morta. Não havia nenhuma reação nela, nada, nadinha. Assim como caiu, lá ficou. A minha pressa em ir trabalhar não me permitiu retirar o cadáver do local, e a única certeza que eu tinha era que ela já estava, quando entrou no meu quarto, procurando um local para desfalecer.

[...]

Fui trabalhar, estudar, viver. Me esqueci do ocorrido. Após o dia repleto de atividades, voltei pra casa, e o cansaço devido à correria típica de uma semana decisiva do final da faculdade sequer me permitiu lembrar do animalzinho na noite seguinte. 

Foi somente no dia seguinte, quando fui limpar o quarto, que me surpreendi de maneira inacreditável. Com a vassoura em mãos, percebi a presença da borboleta ainda em meu quarto. Pensei “nossa, mas já faz tanto tempo que ela morreu, ainda não tirei ela daqui?!”... ao tentar varrer a criatura, o susto: eis que ela levanta um vôo raso. Ela estava desorientada, não conseguia encontrar uma direção. Eu ria, achava aquilo incrível. Ao perceber que ela não iria conseguir sair do quarto, até porque estava ferida, tratei de tê-la em minhas mãos, levando-a até a janela, onde, após admirá-la por um instante, lancei o animalzinho ao ar, já esperando uma nova queda no jardim.

Foi o vôo mais lindo que um ser humano pôde contemplar nos últimos tempos! Ela voou sublimemente, voou alto para a copa da goiabeira, como se nada houvesse acontecido. Como se nunca tivesse morrido. Como se não houvesse passado mais de 24hs inerte naquele piso frio, em meio à sujeira acumulada no quarto de um universitário quintanista.

[...]

Lendo uma passagem de Atos na última noite, me deparei com o seguinte texto:

No primeiro dia da semana, estando nós reunidos com o fim de partir o pão, Paulo, que devia seguir viagem no dia imediato, exortava-os e prolongou o discurso até a meia-noite.
Havia muitas lâmpadas no cenáculo onde estávamos reunidos.
E, estando um certo jovem, por nome Êutico, assentado numa janela, caiu do terceiro andar, tomado de um sono profundo que lhe sobreveio durante o extenso discurso de Paulo; e foi levantado morto.
Paulo, porém, descendo, inclinou-se sobre ele e, abraçando-o, disse: Não vos perturbeis, que a sua alma nele está.
E subindo, e partindo o pão, e comendo, ainda lhes falou largamente até à alvorada; e assim partiu.
E levaram vivo o jovem, e ficaram não pouco consolados. (
At 20.7-12)

A vida está nele!  Continua nele, não vos perturbeis!! OLHA SÓ!

Por que? Propósitos! A vida continua, apesar da luta, da adversidade, dos momentos de fraqueza e aparência de morte!!! Quantas vezes passamos por momentos difíceis em nossas vidas, em que pensamos que realmente não poderemos suportar o fardo que o mundo e que as circunstâncias colocam sobre nós! Quantas vezes somos levados a crer que a dificuldade é tamanha que, mais cedo ou mais tarde, nossa fé vai desmoronar, junto com nossa capacidade de reação.


Há vida, ainda! Creia!

No mesmo instante em que li o texto bíblico citado, tocou no meu rádio uma canção que fala assim: “levante as mãos e no fim comece o início de uma nova vida...”.

Coincidências?

Deus te abençoe. Que você possa crer que Ele é capaz de renovar suas forças!

HÁ VIDA...

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